Thursday, May 11, 2006

A Bulgária brasileira


O Rio de Janeiro não existe. É isso mesmo, não existe nada daquilo que o Brasil acha que se localiza num lindo litoral, cercado pela rica paisagem e pelos morros, numa mescla excitante de apoteoses climáticas e ameaças de vida; onde um dia foi a capital do Brasil; que viu nascer a bossa nova e todas as outras baboseiras que envolvem essa cidade fictícia. É tudo mentira, montagem, cenário do Projac, atores interpretando políticos, favelados, traficantes, classe média imbecil, socialites, garis cantores de óperas, policiais corruptos, bicheiros, malandros, funkeiros e todo o resto da lambança. O próprio elenco da Globo é formado por atores do mais alto nível, que interpretam o papel de atores fúteis ou que vivem a duras penas no underground carioca.
A maior cidade fictícia do mundo. Uma falsidade alimentada por anos (não se sabe precisamente desde quando) no inconsciente coletivo do restante do Brasil. Me emociono é com a qualidade de alguns artistas que conseguem se destacar na miscelânia. O Garotinho e sua esposa são um exemplo: dois puta atores, selecionados a dedo, e que interpretam magistralmente um drama que mistura o trágico e o cômico, e que será lembrado por todos pelo menos daqui a mais uns trinta anos. O próprio nome escolhido para o casal dá uma dica como se trata de uma ficção - Rosinha e Garotinho. O outro garotinho acima, estufando o peito e mostrando as costelas para os supostos policiais e alguns figurantes, também é um grande artista. Um talento precoce! Mais um escolhido numa rígida seleção de mais de quatrocentos atores mirins que lutam, com a aposta dos pais, na guerra para conseguir seu espaço diante das câmeras. Já estive no Rio duas vezes, apenas em datas muito comemorativas (passagem de ano e show dos Stones), e pude sentir como a cidade engana quem não é dali. É como o Show de Trumam, mas ao invés de apenas uma só pessoa ser enganada toda sua vida, o Rio (ou seja lá quem for o diretor da programação) engana a milhões de turistas durante o ano todo e transmite uma programação diária ao resto do Brasil, que piamente acredita na existência daquela cidade e nos seus melodramas bem desenhados de suspense, ação, humor, pânico e a redentora alegria carioca; sempre com um babaca cantando ao fundo a pior música do Gonzaguinha : “ Viveeeerrrrrr, e não ter a vergonha de ser feliiiiizzzzzz, cantaaaarrrrrrrrr e cantar e cantar.......” .


João Gabriel de Freitas

2 comments:

contra said...

boa!

Anonymous said...

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