Tuesday, June 20, 2006

Brasil - sil - sil -sil


Acordo cedo numa manhã de segunda-feira e saio para uma caminhada que seria tranquila não fosse uma trôpega criatura embandeirada dos pés à cabeça cruzar meu caminho, um estouro de foguete no horizonte e a vinheta global - três letras que ecoam nas esquinas como um lamento oco no deserto...


O futebol tem dessas coisas, sintetiza a vontade e a perdição de uma idéia que não foi. Se chegou a ser, já passou. O pós-brasil de Lula ainda tenta reascender aquela "vontade de ser" tão propalada por militares e socialistas no século passado. Hoje só restam o riso histriônico de bêbados e a "brasilidade" forjada em reuniões de marketeiros em algum restaurante francês em São Paulo ou Brasília. Nada sério.


O caso é que em tempos de copa do mundo o Brasil se levanta do sofá no domingo e sai para se mostrar nas ruas numa abobalhada anarquia verde-amarela, com direito a comentários instigantes de Galvão Bueno e o já célebre "a regra é clara, Galvão". Sim, a regra é clara: ano de Copa do Mundo o Brasil se re-faz, na alegria de um gol e nas urnas. De quatro em quatro anos recolhemos os cacos de um antigo monumento e refazemos uma idéia que retiramos da tradição forjada em meio a uma ditadura populista e uma ditadura militar. Naqueles tempos em que "[n]a mão direita [havia] uma roseira/ autenticando a eterna primeira" enquanto "no pulso esquerdo um bang-bang/[que] em suas veias correm muito pouco sangue/ mas seu coração balança[va] a um samba de/ tamborim", éramos um corpo e não sabíamos (ou sabíamos que éramos um corpo, mas fingíamos que não, tudo em prol do vir-a-ser). Hoje nos alegramos em recolher os estilhaços daquele corpo e alegremente montarmos um Brasil como um vitral barroco.

A bandeira verde-amarela, o hino, o personalismo, a miscigenação, a cordialidade, a alegria, a corrupção etc etc etc. todos os elementos empilhados em ruas, esquinas, bares, clubes, residências, puteiros, repartições públicas, favelas, bancos, shoppings, condomínios fechados, jornais, revistas, Tvs, rádios, etc etc etc. O Brasil ali para todo mundo ver, tocar e sentir. O Brasil que foi e que não foi, lado a lado, etéreo e sintetizado no toque na bola, na gordura de Ronaldo, no estouro do foguete, nas urnas... O Brasil que é, que foi e que será, eterno e fragmentado, perdido entre o vir-a-ser e o "já foi".


O Brasil tem dessas coisas... tem inclusive eu que escrevo e voto como um dia joguei futebol: com duas pernas esquerdas (reparem bem, não sou canhoto)!



Carlos Eduardo Pinheiro

Saturday, June 17, 2006

zzzzzzzz



Eu prometo que até o final do ano eu acordo...

Sunday, June 04, 2006

Haja saco!

Pelo jeito vou ter que começar uma saga blogueriana. Não bastasse a gente ter que ler todo tipo de bobagem, e eu não me escluo, ainda temos que aturar spam em comentários de blog. "Look nice. Congratulations, blá blá blá". E ainda vem um link esperto ">>", provavelmente com um vírus mais esperto ainda.

O tal do blog é um espaço muito bom para ser deteriorado e/ou mau utilizado desse jeito...

Thursday, June 01, 2006

Afronto

Espantoso parar uma cidade para um encontro “total black”. Estranho os melhores hotéis e restaurantes reservados para as comunidades negras. O palco, as ruas, todos tinham “donos”. Mas estranho mesmo é que isso ainda seja espantoso para muitos. Muitos que insistem em negar que o Brasil é negro. Somos todos pretos mesmo, uma herança que se estende a tudo, nossa história, nossos “de comer”, nossas cores, a música, nossa religião fantasiosa, rica, nossa língua. Reverenciemos a cultura afro por ter nos livrado da insipidez.

Bem, não era para começar tão político assim. É que a dureza da hipocrisia nos leva a discursar. O tal do racismo velado existe mesmo e é foda. Aquela história de tornar o respeito uma questão de caridade. Ou então fingir que está tudo uma tranqüilidade só. Tudo isso é muita sacanagem. Então vem um momento como esse, um Encontro Afro (um dos poucos eventos no Brasil dedicado apenas à temática afro), que vai de encontro a tudo isso, invertendo toda a “ordem”, questionando a negligência, ressaltando o orgulho, a beleza....

Olhando os negros, seus olhos têm uma força, uma postura. Sua maneira de falar, seus cabelos, roupas, um estilo tão impetuoso. Falavam da suas lutas com sobriedade, veemência. Sorriam muito. Enquanto os tambores de samba de roda batucavam nas ruas, nas salas havia uma ou outra prosa científica, noutro canto repicava o som do berimbau ou um break hip hop. Era de dar nó na garganta. E ali, na cidade de Goiás Velho, toda construída por braços de escravos. Era quase que um culto aos ancestrais.

Pensava em como toda essa gente resiste, o quanto essa gente produz relicários que seríamos incapazes de oferecer. Estão muito longe de serem só “os negros da ginga, da malevolência, do corpo dourado”. Nos dão muito mais que isso. A vontade era de tomar um banho de piche e virar preto também. Por quê? Não, não é porque “tá na moda” não. Simplesmente não há outra maneira de penetrarmos nesse mundo sem enegrecer.

Ah, só registrando foi muito bonito a roda de Candomblé feita para receber o governador do estado no evento. No centro da roda, Ode, um dos orixás do Candomblé fazia uma dança com facas. Rodopia, ginga, até o momento que sai da roda e se põe a dançar no meio da multidão. Com as facas. Cruza uma e outra, roda, corre de um lado para o outro empunhando as tais facas, grandes, afiadas (porque vieram mesmo da cozinha) e de repente pára em frente ao ilustre convidado, e continua dançando, cruzando as facas próximo ao rosto rechonchudo do governador. Ele sorri, sem graça, tenta acompanhar o ritmo da música, mas alguma coisa me diz que ele não estava muito à vontade. Pena. A festa estava realmente bacana.

Lorena Maria e Silva