Saturday, September 09, 2006
Geralllldo!!!!!
Angar do Aeroporto de Goiânia, 04/09 - 15:30 . Na entrada, alguns cabos eleitorais pingados flanulam displicentemente suas bandeiras numa tentativa de recepção nem tão insossa. Nada demais, afinal, nem todos arriscaram recepcionar o Geraldo no desembarque para extrair pronunciamentos exclusivos.
Acompanhava a Fabiana Pulcineli, repórter de política do Popular, e juntos esperamos mais de quarenta minutos pela chegada do avião vindo de Jataí: matando copinhos de água morna e tentando decifrar informações de rostos desconhecidos.
No saguão, quem se destacava era um grupo que estufava o peito demonstrando o adesivinho minúsculo e vagabundo com o rosto de Alckmim, juntamente ao lado de um brasão portentoso com o número 15, circunscrito com a frase "Uma Nova Onda".
Uma atitude dúbia e muito comum de comitês jovens de partidos, que costumam lançar movimentos non sense, sem qualquer repercursão. A dúvida na cabeça da galera era evidente: Quem eram os estranhos no ninho tucano?? Até que Fabiana perguntou sobre o que se tratava tal manifestação para um dos rapazotes que tinha o peito decorado. Solícito e forçando uma ar de naturalidade, o carinha explicou que se tratava da frente Maguito(PMDB)- Geraldo(PSDB), encabeçada pelo Mauro Miranda. "Tem mais de cinquenta ali atrás, juntos com o Mauro", reforçou. Na verdade, não passavam de vinte, todos jovens, sorridentes, fazendo piadinhas e circulando em volta de um Mauro Miranda sexagenário.
Enfim, o Avião:
Descem junto com Geraldo: Lúcia Vânia, Alcides e Marconi. É primeiramente vetado o avanço dos jornalistas, contidos na porta do saguão e acalmados por uma promessa de coletiva logo após uma rápida reunião. Ao passar pelo salão, Geraldo (primeira impressão: mais baixo e mais curvado do que a figura televisiva) é recepcionado por duas mulheres - balzaquianas, perfumadas e envoltasem um figurino muito além do a situação requeria. Ambas são abraçadas e beijadas por um Geraldo mauricinho que numa tentativa de forjar um ar mais galanteador pronuncia : "PODEROSAS!!".
Neste momento, ao fundo, Cidinho passava reto sem cumprimentar ninguém e encarando rapidamente a imprensa com aquele olhar meio acuado(sempre de baixo para cima). Os recém chegados e mais alguns deputados tucanos, que também estavam em Jataí, dirigiram-se a uma sala do angar onde se encontrava Mauro Miranda e sua trupe sangue-novo. Não se sabe o que se tratou ou as formas de tratamento que se deram por lá.
Chega então o momento da coletiva. Posicionado em frente às câmeras e gravadores, descontraído, Geraldo tenta uma piadinha: "Oi, eu sou o Geraldo!".
Ao seu lado esquerdo, o ex-governador Marconi Perillo, e, logicamente em seu lado direito..........Leréia!!!
Não sei se avisaram enfaticamente ao Cidinho (candidato ao governo do estado) que o Leréira(deputado estadual do PSDB) estava na área. É lógico que ele sabia, mais acho que só foi perceber realmente a presença do parrudo deputado quando este já ocupava seu lugar ao lado de Geraldo na coletiva.
Leréia é um dos parlamentares que melhor sabe se posicionar em eventos políticos. Ocupa bem os espaços, abre caminho fácil em multidões, não é deslocado com qualquer empurrão. Seria um centro-avante de destaque, sempre no local certo, onde a bola acaba sobrando na área. Foi necessário Marconi, rapidamente, intervir e já no início das filmagem puxar Cidinho, perdido no fundão, para a linha de frente.
Já devidamente posicionados, Alckmin se destacava sendo o ponto pálido entre os demais.Vestia um casaquinho beje, sem graça, como um senhor com frio que sai pra comprar pão pela manhã.
Poucas perguntas, respostas já mastigadas e, quando de fato precionado, proferia evasivas (como ao tratar a crise local entre PFL e PSDB, que apenas enfraquece sua campanha - como vem acontecendo em outros estados).
"Não há crise, o PFL compareceu em Jataí, com o Vilmar Rocha", saiu-se com essa.
Centro de Convenções:
Local do discurso. De onde todos partiriam para a passeata pelo centro da cidade.O carro chega arrastando os que se posicionaram na porta dos fundos do complexo, para a receptividade. Pelo corredor humano formado, passa a pick-up trazendo Cidinho e Geraldo. O carro de Marconi ficou logo atrás, impossibilitado de passar. Necessitou Perillo saltar do automóvel e sair correndo atrás do carro principal, junto com cabos eleitorais e repórteres que viam gradativamente os portões se fechando.
O pavimento inferior do Centro de Convenções se encontrava lotado: cerca de duas mil pessoas, de acordo com a polícia militar. Um aglomerado não muito heterogêneo, formado em sua maioria por cabos eleitorais e funcionários públicos comicionados.
Após os agradecimentos de Lúcia Vânia (neste ano, responsável pela coordenação da campanha de Alckmin em Goiás), Marconi tomou posição no palanque. Rouco, pediu inicialmente palmas para Geraldo, e que todos gritassem juntos: Ge-Ral-Do!...Ge-Ral-Do!..... Sendo seguido pela platéia.
Fez o mesmo com Cidinho: Al-Ci-Des!...Al-Ci-Des!..... Neste momento, todos os convidados sentados na primeira coluna, de mãos dadas, levaram Alcides à frente do palco, para que o candidato canalizasse a energia e a responsabilidade do evento.
E tão logo Perillo deu início as primeiras palavras, o público, instintivamente, recomeçou o coro: Mar-Co-Ni!........
Mesmo com a voz rouca, o ex-governador conseguiu manter uma animosidade em seu discurso. Trechos incendiários, em que touxe para si a responsabilidade do renda cidadã e bolsa escola, programas copiados pelo governo de São Paulo. Frisou: "O Geraldo reconhece que a idéia desses programas vieram de Goiás". A bem da verdade, em suas propagandas, Alckmin creditava a si a elaboração dos programas.
Resgatou-se Mário Covas, que passa a ser trabalhado pelo PSDB na tentativa de elaboração de um mito tucano. "O Geraldo é da escola de Mário Covas".
Fez desafios e promessas ao "futuro Presidente", pedindo a conclusão da Ferrovia Norte-Sul e a criação de mais duas universidades federais em Goiás(em Jataí e em Catalão).
Elencou todas as áreas: produtores rurais, segurança pública, saúde...Falou cerca de vinte e cinco minutos, até não mais restar resquício de voz.
Restou ao Cidinho a difícil tarefa de manter o tom de animação. Algo complicado para alguém que ainda se sente desconfortável sobre o palanque.
Transparecia no discurso do pepista a falta de cacoete político e o desejo imerso de que aquilo terminasse o mais rápido possível. Discursou por cinco minutos, apenas reiterando aquilo que já havia sido dito. Tentou arrancar aplausos em momentos de euforia claramente ensaiados, que perdem, por si só, a naturalidade.
Embarcou na onda de Geraldo e seu choque de gestão, sem realmente dizer quais seriam as ações. Referiu-se mais aos seus companheiros do que a ele próprio (bem característico de tímidos que se envergonham ao falar bem de si mesmo), e fechou reafirmando seu desejo em ser o instrumento da continuidade, frase cunhada duas vezes antes de deixar o microfone.
Geraldo , agora sem seu casaquinho beje e com as mangas da camisa arriadas refletia aimagem do genro que toda nora pediu a Deus: limpinho, de boa procedência, munido com frases bem trabalhadas... E já que Lula quer ser Getúlio Vargas, Alckmin se apega então a JK, relembrado o homem que em Jataí, há 51 anos, anunciava a criação de uma nova capital no cerrado.
Na porção final do discurso, e para alívio dos aliados, passou a despejar críticas mais duras contra o PT e de forma mais direta contra Lula - sem esquivas ou meias palavras.
Contra o pífio desempenho das pesquisas garantiu:
"Agora que a campanha tá começando, agora que o voto começa a ser decidido!"
E voltou-se contra a imprensa numa enigmática declaração:
"Eu tenho visto companheiros da imprensa de pouca fé. Esse povo de pouca fé teve um tira-teima hoje aqui em Goiás. Hoje é a prova de que o país( referente às pesquisas) vai mudar"
Finalizou o com o trecho da música de Gil: "Sonho que se sonha só é só um sonho, mas um sonho que se sonho junto se torna realidade"...
Comprovando o seu distanciamento com o povo ao buscar frases bem encaixadas, mas que não conseguem chegar até um nível de sentimento profundo do povão. Duvido se após quinze minutos, alguém da platéia conseguiria reproduzir a frase de encerramento do discurso de Geraldo.
Pernadas:
Grande parte da bancada tucana e mais alguns jornalistas se expremem no momento de descida do Centro de Convenções para a passeata pelo Centro. Seguranças fazem seus serviços isolando os candidatos à forceps. Tensão. O grupo principal deságua à frente. Tento achar Fabiana no meio do bolo e acabo ficando para trás.
No momento de afunilamento para passar pelo portão, inicia-se ao meu lado um desentendimento de um cabo eleitoral com um engraxate bronco, que acabou sendo empurrado sem querer. Justo quando ninguém conseguia se deslocar de acordo com seus interesses, sendo simplesmente levados pela massa, o engraxate entra em crise de fobia e começa a gritar, armando o braço para um soco: "Não me encosta porra! Não me encosta!!" - como se isso fosse possível.
O desespero do cabo eleitoral, logo atrás, sob a iminência de um soco, foi aliviado por outros militantes que impediram a pancada.
Passado o aperto do portão, a massa cai na rua velozmente. Nesse momento, o cume da passeata já se encontrava a mais de uma quadra de distância, e em ritmo acelerado. Tendo alcançar a linha de frente e atravessar a baderna de bandeiras que flanulam sem se preocupar com cabeças alheias. O turbilhão parece te envolver impossibilitando que se escape do tumulto. Sinto como se pegasse uma onda quebrada e mesmo tentanto chegar a superfície, não conseguisse sair do caldo. Foi preciso uma volta por fora, em ruas paralelas, para vislumbrar a passeata pela frente, longe da arrebatação da massa confusa.
Nas ruas do centro e nos prédios em volta houve pouca comoção. Apenas alguns comerciantes e os já tradicionais habituês do centrão, observando introspectos o aceno de braços. Muito mais curiosidade do que apoio político em si. De algumas janelas pessoas acenavam, poucas, outras arremessavam papeis picados(que podem ter sido feito pelos próprios comitês).
Produtoras em pólvora tentavam captar rostos mais animadinhos pelas calçadas ou algum garotinho no ombro do pai, com uma cara de aceitação pura e incontestável. Coisa difícil!
O destaque ficou por conta de uma velhinha que, ao chamado de Marconi, partiu em disparada da calçada rumo ao abraço dos candidatos, no centro do tumulto. Atravessou rasante e chegou aos braços de Alckmin, sendo fortemente abraçada e já deixada para trás, devido o ritmo incessante da caminhada. Até então, não se sabe sobre seus resquícios. A velhinha foi engolida pela turba e talvez tenha virado poeira urbana.
Ao final da Rua 3, próximo ao Eixo Anhanguera, a dispersão se dá de forma rápida e sem cerimônias. Sem acenos ou palavras finais. Candidatos adentram seus veículos e disparam. Pronto!
Já dentro do carro rumo à redação, recosto no banco e uma sensação de alívio acompanha o pôr-do-sol. Alguns flashes retrospectivos pipocam desordenados, um cansaço gostoso nocorpo, mas nenhuma música me vem à cabeça neste momento.
João Gabriel de Freitas
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3 comments:
da miséria terceiro mundista brasileira pululam cabos eleitorais vindos sei-lá-de-onde com suas bandeiras personalistas, sob o sol escaldante de uma cidade poluída encrustada no cerrado, movidos menos por um ideal do que por qualquer dez reais. a política que surge da miséria é a que a perpetua. um círculo vicioso.
enquanto isso a noblesse dos salões fabrica imagens e falas e gestos e programas-de-governo - fruto e reprodutora daquela mesma miséria [ dessa vez movida sim por um ideal - só não me pergunte qual].
a dialética forjada na aurora de nossa cultura agoniza nesse simulacro de oposição [atraso / desenvolvimento] que no fundo é um par [miséria / reprodução da miséria] sem direita ou esquerda, sem começo ou fim, somente um eterno-presente sempre reproduzido.
[em tempo, o "sonho que se sonha junto" é de Raul Seixas o de Gil é aquele outro fruto da mesma queda do beliche mas ligeiramente menos otimista: "O sonho acabou
Quem não dormiu no sleeping-bag nem sequer sonhou (...)O sonho acabou
Foi pesado o sono pra quem não sonhou"]
[gostei da sua "imersão na notícia", torna o texto mais vivo e interessante. além de muito bem escrito.]
Abraços!
A política tem dessas coisas. Nos prende entre o inacreditável e as coisas mais banais. Fiquei até entusiasmada com uma possível espionagem!!! Materemos contato.
Ah, e por favor, faça as vezes da casa para o Lula também, rs!
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