Wednesday, January 10, 2007

de perto, ninguém é...

Sentada no sofá, assistia ao jornal diário e lambiscava a sobremesa. A briga começou por causa do Nelson Rodrigues. Sem paciência para comentários inúteis, deu uma resposta grosseira à irmã que maldisse o escritor. Na verdade ele nem é, nem nunca foi seu primeiro da lista, mas havia de reconhecer sua maestria e sua sensatez. Aí é que a coisa ferveu. Insano era o que ele era!
Insano?! Sãos não somos! Cercados de exemplos e histórias absurdas, como definir quem é louco ou devasso ou insensato ou pervertido?! A negra do bêco, tem mil amantes, uma mãe que, de devota passou à doente mental, e uma filha que assiste ao seu sexo diariamente. A tia próxima, diz que tem um namorado, viajante, teve uma herdeira com outra mulher e nunca quis casá-la. A da esquina há cinco anos tem uma caso com o dono do supermecardo, casado há 30. A esposa sabe de tudo. A outra, mal enterrou o cônjuge e se deu ao desfrute. Certa ela! Melhor que a outra que se enterrou com o marido. (Aliás, ô rua pra ter viúva, viu?!).
Não quis falar do avô, porque ainda era recente. Embora todos se penalizassem com sua loucura, era de todos, o mais normal. O mais atento, o mais sereno. Tudo bem que tinha lá seus devaneios, suas crises e deficiências, mas assim não somos todos nós?! Lembrou-se também do amigo (ou talvez nem isso). Enstisteceu-se, mas não soube nem lamentar, tão precoce sua perda de sentido! Da sua loucura nunca mais tiveram notícia. Também não mencionou este.
E também não falou dos loucos de sua infância, dos pervertidos, das figuras que circulavam aquela cidade do interior, complementando o postal. Na igreja era fácil encontrá-los. Ali ninguém fala em voz alta. A senhora das bonecas, teve as filhas gêmeas assassinadas pelo avô, o rapaz gritando em francês trechos bíblicos, estudou muito e era vciado em alguma coisa, o velho sem dentes, não se lembrava, aquele com a bengala, abandono materno. Um montante de psicopatias e perveções.....
A briga silenciou para atender com urgência ao apelo televisivo: a execução de Sadam, exibida no noticiário. Desfigurado, pronunciava uma oração, quando o carrasco de súbito tirou-lhe o chão. E a vida.
O que dizer de Nelson Rodrigues? Insano está o mundo!
Lorena Maria

3 comments:

Anonymous said...

Ouvi falarem mal de Nelson Rodrigues na sala de aula, pode? Bem, poder, pode, né, mas, enfim...

O lance da ruá aí pode ser a coincidência. Ela concentra tudo da cidade, não? hehehe

Lorena said...

"estava dois funcionários de relia por conta dessa história de inferno.
- você nesse dilema, rapaz, nessa privação das coisas. Já pensou se não tiver essa bobeirada de inferno nada, hein?!
- pois é...(pensou). Mas se tiver, hein?!"

vai que não seja coincidência.....

Lorena said...
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