A tormenta atingia a janela que ficava sobre a cama. O quarto, na penumbra, é abalado por um clarão que balança as paredes e desperta o corpo suado, já de pau duro - a lembrança da primeira mulher que vem à cabeça é suficiente.
A mão direita não consegue tocar a punheta. O ombro ainda está inchado pelo tiro de raspão, envolto em uma atadura amarelada dos dias quentes de Goiânia.
O tesão é maior, o pau ainda ereto, latejante. Resta a mão esquerda, descoordenada.
A gozada demora mais que o esperado, a bermuda mal arriada atrapalha. Não se permite pausa para tirá-la, se parar agora, mesmo que rápido, pode perder o momento. A chuva acerta a vidraça e respinga dentro do quarto, sobre o corpo que se contorce.
O ombro dói, lateja ainda mais. Uma pequena mancha de sangue aparece na atadura.
A testa salpica de um suor viscoso, a chuva já cai forte e escorre pela parede. A imagem da mulher nem mais é tão lembrada, apenas pequenos flashes.
Trata-se agora de uma questão de honra.
O membro vermelho, latejante - aumenta-se a velocidade.
A mão esquerda em solavancos fortes. Mais um pouco.
Quase...., quase...., vai..., mais uma puxada, vai porra, vai,....
a respiração presa, o ritmo frenético,
vai porra,...
agora sim, agora sim....,
sim........................................................................
Aos poucos o movimento desacelera, solta-se o ar dos pulmões e respira-se fundo, devagar. O corpo treme. Respingos da chuva estalam na grade da janela.
O quarto já escuro.
Gozado, o corpo deita-se de bruços num sono profundo.
Um último estrondo distante. A tempestade já ao longe.
Não há paz e nem há uivos
João Gabriel de Freitas
João Gabriel de Freitas