Tuesday, August 22, 2006

Exames da Vida

A historieta abaixo foi contada por um amigo de um amigo meu, que eu, por ofício e hábito gostaria de contar. Claro que não citarei nomes, locais e nem datas, tudo isso para resguardar os envolvidos no contado. Deixo claro também minha indignação pela bulas de remédio e pessoas que são muito complicadas de ler e entender respectivamente... abaixo o fato.

Ahhhh!!! Como é bom chegar aqui!!! - Exclamou Badalysson Durão ao dar o primeiro passo em chão firme após 7 horas de uma incômoda viagem de ônibus. Durão, como era conhecido pelas pessoas de sua cidade, sempre desejou morar na Capital. E foi exatamente na Cidade Grande onde o fato ocorreu.

Um certo dia, logo após um almoço tipicamente brasileiro, orelha de porco, buxada, costela, feijão tropeiro e de corda, arroz, mandioca, dobradinha e um limãozinho para dar o gosto, nosso protagonista resolveu tirar uma pestana, como dizia sua tão estimada e falecida avozinha.
Normal, muitas pessoas dormem depois de comer, mas Durão começou a se sentir mal depois de alguns minutos de sono. E assim preocupado, ele seguiu para o hospital!

Meninos chorando, gente queimada, sangue no chão. No corredor dos ambulatório tinha uma mulher que aguardava ansiosamente por sua vez na ultra-sonografia, dizia ela que estava passando roupa para seu marido, quando escorregou e a ponta de um cabide ficou preso na... bem, vocês podem imaginar.

"Badalysson Durão" - chamou o médico com um pouco de dificuldade e com a voz cansada.
-Qual é o seu problema? Perguntou o senhor de vestimenta branca.
-Bem dôtor. Eu tô com uns revestrés na barriga... meus olho tá virando toda hora. Acho que dessa eu num passo.
Numa analise visual, olhando de baixo pra cima, da esquerda para a direita, apalpando a barriga e naquela famosa situação do "trinta e três" com os pulmões cheios de ar, o doutor disse:
-Hum, isso deve ser inflamação estomacal... bem, eu vou passar uns exames para você e no mês que vem você retorna! Finalizou morbidamente o médico.

E para casa Badalysson foi. No outro dia às cinco da manhã, Durão esperava ansiosamente pela abertura do laboratório. Tinha maquinado a noite toda quais exames teria que fazer, o que iriam fazer com ele, o que teriam que colocar nele... até sonhou com a sua vó, falando para que ficasse quieto enquanto aquele "tiozinho" da farmácia (não só no interior, mas em vários lugares) , que às vezes tem o antigo segundo grau, enfia uma agulha em seu braço ( neste caso, pois sempre teve vergonha de mostrar suas nádegas publicamente).

Ele entregou o pedido de exame para a moça, que sorridentemente analisou o conteúdo. Fez algumas perguntas, procedimento padrão do laboratório, digitou outras coisas no computador e com firmeza no olhar informou a Durão:

-Pegue este recipiente para que o senhor possa colher o material!
-Colher o material? Indagou.
-Sim, feche bem e guarde na geladeira, pelo menor tempo possível!
-Muito obrigado.

Durão saiu do laboratório repetindo o pedido da secretário do laboratório. "Colher o material, colher o material, colher o material...". Mesmo com as malditas músicas do ônibus, que geralmente por serem ruins grudam no pensamento, Badalysson não se esqueceu...

"Colher o material".

Chegando em casa tirou os sapatos e sentou-se na cama. Abriu a sacolinha e olhou para o pequeno "pote", e só neste momento ele se deu conta, "Que porra é essa de material?".
Rapidamente voltou ao laboratório que ficava a uns 40 minutos de sua casa, isso se o trânsito estivesse livre, em caso de engarrafamento poderia levar por volta de 1 hora e meia. Entrou meio ofegante na sala de entrada, procurou a moça que o atendera, que por sinal tinha saído para comer (horário de almoço). Pacientemente ele esperou por 1 hora, talvez mais um pouco.
Assim que a senhorita chegou, ele educamente perguntou:

- Oi tive aqui de manhã, para pedir uns exame e não sei se a senhora lembra de mim... - ela balançou positivamente a cabeça - Pois é, cê disse que era pra eu colher o material, mas o que é material?!
- É colher fezes meus senhor! Respondeu a secretária com uma feição risonha.
- Ahhhhhhh!!! - Exclamou bem alto. - Brigado.

No caminho a mesma coisa. Ouvindo musicas ruins no ônibus. Pessoas se esfregando e compartilhando o odor e suor dentro do transporte coletivo, e nosso protagonista firme nas fezes. Não parava de pensar, "colher fezes, colher fezes...".

Quarenta minutos depois chegava novamente em casa. Cansado só pensava em comer alguma coisa, já que ninguém é de ferro. Depois de comer um feijão-com-arroz básico, se voltou ao seu exame, e entrou em mais um dilema:

-CARALHOOOO!! O que é fezes??? Gritou bem alto.

Neste momento Durão quase foi acometido por uma indigestão. Já não ia muito bem do estômago, com mais essa agora por pouco foi para o saco. A única coisa a se fazer, pensava ele, era ir ao laboratório novamente. Já estava grilado, pois teria que enfrentar o busão e tudo aquilo novamente, e o mais engraçado era ter que fazer isso na hora do "rush" novamente...

Depois de ter enfrentado tudo de novo, mais uma vez chega no laboratório. Com cuidado ele esperou a secretária atender a todos que estavam na sua frente. Chegou a pegar uma senha para ser atendido. Quando chamaram seu número, cautelosamente ele se aproximou e já foi se explicando para a moça, que ao vê-lo fez aquela cara (de novo?):

- Olha moça, desculpa eu, mas é que sou do interior, então eu num sei de algumas coisas. Num queria incomodar, mas o que é fezes??? Perguntou inocentemente Durão.

Surpresa e com um olhar de raiva (um daqueles que você sabe o quanto a pessoa ganha pouco para te olhar assim) ela respondeu enfaticamente:

-É BOSTA! MERDA...

Com espanto e confuso Badalysson retrucou:

-Calma moça, também não precisa me ofender xingando desse jeito... Mas me responde ai, o que é FEZES???

Renato Cirino

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