Friday, December 01, 2006

Lanny Gordin - Psicodelia e transgressão made in Brazil


Quando se fala em tropicalismo vêm à mente as figuras de Caetano Veloso e Gilberto Gil, talvez Os Mutantes e [agora mais do que nunca] de Tom Zé. Raramente Jards Macalé, Rogério Duprat ou Lanny Gordin. O movimento tropicalista, no seu período áureo, de 1967 a pelo menos 1972, pautou-se, principalmente, pela experimentação através da sinergia de artistas de diversas áreas. Esquecer que o tropicalismo foi um movimento coletivo é compactuar com a idolatria do mainstream brasileiro - e o que foi a década de 1970 senão o decênio de ascensão dos grandes ídolos da MPB?

Relembrar o nome de Lanny Gordin é não só uma atitude anti-stabilishment como a reparação de uma injustiça. Uma das forças motrizes do tropicalismo, Lanny, participou dos principais [e melhores] discos daquele movimento. Sua guitarra transgrediu os limites impostos pelo padrão de música popular praticado até então ao fundir jazz e psicodelia de uma forma talvez nunca experimentada antes por estas terras. Solos siderais, distorções lancinantes, ambientações lisérgicas e dispersão do Ego eram [e são] alguns dos efeitos característicos criados pelo guitarrista (...).

1969 é uma data marcante para o tropicalismo, não só por ser o ano do exílio dos "cabeças" do movimento, quanto pela psicodelia incontida presente nos discos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa daquele ano. Transgressão e psicodelia obtida pela sinergia das cabeças mais progressistas no campo da música popular no Brasil daquele momento. Poesia, política, lisergia, performance, marketing, música, teatro, cinema e artes plásticas. Estilhaços de uma bomba que explodiu no centro da cultura urbana brasileira. Resgatar o nome de Lanny Gordin é agir contra a centralização da cultura no Brasil, já que faz emergir das sombras diversos pontos de fuga e desdobramentos que a "história oficial" encobriu em nome de uma idolatria centralizadora.

A guitarra de Lanny muito mais que mero acompanhamento é uma voz que grita do fundo dos porões do inconsciente. Loucura e arte, sexualidade e violência. Transgressão. Forças que atravessam as músicas desintegrando-as. Levando-as ao limite. Fundindo todos os elementos num só, dando coerência ao mesmo tempo em que estilhaça qualquer tentativa discursiva totalizadora. Por agir como elemento dissonante e fragmentador da música, a guitarra de Lanny Gordin não pode ser encerrada em um modelo unidimensional. Sua música extravasa os limites e percorre diversas dimensões pouco experimentadas. É por isso que o resgate de seu nome [e de sua música] age como força reativa à centralização do stabelishment, age como um sopro de vida vindo das veredas mais obscuras da história contra a soberania de ídolos de mármore. Resgatá-lo é reafirmar o tropicalismo como um movimento coletivo transgressor, que batia de frente com certa forma de produção cultural reinante até então no Brasil, e, muito mais que isso, é lançar sobre a memória uma luz que, ao iluminar certos pontos obscuros da cultura brasileira, abre infinitas possibilidades.

Eduardo Pinheiro

5 comments:

Anonymous said...

antes que seja tarde: o título "made in brazil" diz e não diz o quer dizer. rs >>> Lanny Gordin é descendente de russos e polonoses, mas nasceu em Xangai na China e viveu até os anos 60 em Tel Aviv em Israel quando mudou para São Paulo >>> mais cosmopolita impossível!

outra: para quem não sabe, os links para o rapidshare são dos álbuns completos, principalmente de 1969 de Caetano, Gil, Gal Costa e um do Jards Macalé de 1972 muito bom com Lanny no violão >>> para quem nao sabe como baixar é so descer a barra de rolagem - apertar FREE - esperar a contagem regressiva - colocar as letras que aparecem e - DOWNLOAD.

Anonymous said...

Cara, valeu pelos links! Meu primeiro contato com o Lanny foi no cd de estréia do Chico César. Só pela participação em duas músicas eu já tinha ficado com um puta respeito pelo cara. Mal sabia o que viria pela frente ao topar com a obra do cara e também com sua história pessoal lisérgica.
Curti o final também. Ontem mesmo tive uma conversa com o Pablo Kossa de como Caetano bota o Chico no chinelo e põe tudo pra fuder com o "Cê"!

Anonymous said...

Só completando! Cara baixei esse cd do Jards Macalé e não consigo parar de ouvir. Que coisa linda velho! A música "o movimento dos barcos" simplesmente me chapou.

Anonymous said...

eduardo, me desculpe a igonrancia ou falta de atenção, mas nao encontrei os links do rapdshare para baix´-lo, onde estão? vc poderia disponibilizar pra mim?VAleu demais.

Anonymous said...

Wertem,
os links estão "escondidos" nos nomes de Caetano, Gil, Gal Costa e Jards no corpo do texto. É só clicar neles que vc será transportado para um mundo de sensações. :P
Abraços!