Monday, March 06, 2006

Risco Certeiro

Um aconchego abafado. A sala se abarrota de pessoas idosas que rezam o terço em pé ou de joelhos. É necessário certo sofrimento, calor, o ar repetidamente respirado, o cheiro de velas que insistem em queimar mesmo em seu fim. Num coro, as falas vão perdendo o sentido e a oração se torna apenas um som murmurado por bocas que quase não se abrem. Os olhos espremem com força os pecados que caem no chão em forma de suor, pecados contidos em mãos que se esfregam - dedos encharcados de arrependimento. Uma intimidade calada e bem definida em seus limites: não há palavra gasta, conversa abastada, o risco do verbo é sempre certeiro. A pele cobre, cor de carne, rasgada em traços de rostos fortes com olhos tão femininos, olhos inseguros e doces de um cavalo.

João Gabriel Freitas

1 comment:

Andrea said...

Bem vindo ao mundo...